O violão de sete cordas é instrumento genuinamente brasileiro – talvez não em suas origens, mas com certeza em seu uso, técnica e linguagem. Seu aparecimento no Rio de Janeiro, no início do século XX, ainda guarda alguns mistérios. As pistas mais consistentes apontam para um grupo de ciganos que viviam no bairro do Catumbi, e que usavam em sua música um violão de sete cordas com uma afinação diferente da ocidental, amplamente difundido na Rússia desde fins do século XVIII. De acordo com depoimentos de gente como Pixinguinha e João da Baiana, estes ciganos mantinham contato com a chamada Pequena África, comunidade de negros nordestinos então fixados em torno da Praça Onze, onde se definiu o samba urbano carioca. Foi talvez ali, por meio dos ciganos, que China (irmão mais velho de Pixinguinha, também integrante dos Oito Batutas) e Tute, os primeiros expoentes do sete-cordas, teriam tomado contato com o instrumento, ambientando-o nos repertórios de choro e, mais tarde, samba. De qualquer modo, a suposta origem russa do sete-cordas brasileiro ainda está para ser documentada com o rigor dos historiadores.
Ainda em fins do século XIX, o contracanto improvisado nas notas graves do violão – as “baixarias” – imitava o dos instrumentos de sopro como o bombardino, o oficleide e a tuba. Com o tempo, as baixarias foram ganhando estilo próprio e orgânico, integrado à sonoridade e à técnica do violão. Daí, como se imagina, o feliz encontro com o violão dos ciganos, cuja sétima corda (um bordão mais grave afinado em dó) ampliava as possibilidades do instrumento na função de baixo cantante.
Mas o violão de sete demoraria a ser popularizado e difundido pelos conjuntos regionais, formações dedicadas ao choro e ao samba. Isto só aconteceria na década de 1950, com o músico que se tornou o maior porta-voz do instrumento e influenciou todas as gerações posteriores de sete-cordas: Horondino José da Silva, o Dino 7 Cordas. Músico atuante desde 1935, quando se tornou um dos violonistas do regional de Benedito Lacerda (o mais destacado em seu tempo), Dino encomendou um sete-cordas à oficina Do Souto em novembro de 1952, passando a utilizá-lo regularmente a partir do ano seguinte. Dino foi o responsável por desenvolver a linguagem do instrumento, valendo-se de novos padrões rítmicos e melódicos, mais elaborados, para a construção das baixarias.
A partir do desempenho brilhante de Dino, exibido em centenas de programas de rádio, shows e gravações, o sete-cordas foi ganhando adeptos por todo o país, incorporando-se definitivamente aos regionais de choro, aos conjuntos de samba e, já nos anos 70, ao desfile das escolas de samba, somando-se ao cavaquinho para acompanhar os intérpretes de samba-enredo. O instrumento passou a contar com outros grandes representantes, como o genial Rafael Rabello. E hoje, em mais uma fase de reflorescimento do choro, o sete-cordas tornou-se um dos instrumentos mais procurados pelos jovens músicos, ostentando expressivas revelações.
terça-feira, 27 de abril de 2010
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